ABISMOS

Ah…os sentimentos: são humanos, são divinos, são sombrios? De onde eles vêm?

Hoje me peguei mergulhada, imersa em minhas claustrofobias sentimentais. Desejando desvendar as tramas do meu coração para enfim colocar as coisas no lugar. E eu fui o mais próximo que pude de meus precipícios para tentar achar indícios da causa, ou das causas de tamanhos infortúnios. Em cada desfiladeiro uma lembrança, uma nuance de tempos, momentos, felizes! Que espanto! Eu vi sorrisos, eu vi abraços, eu vi esperança. E quanto mais fundo eu descia, menos compreendia em que momento aquilo tudo se perdeu. De que passado glorioso emergiu meu castelo de sombras e tormentos?

Eu sabia que havia um momento de ruptura, um momento do qual o nó que segurava meu emaranhado de frieza e apatia havia sido fortemente enlaçado. Era esse momento ou instante que sustentara toda a minha história até aqui.

De repente, um rosto, um retrato da minha desgraça, era tão marcante que eu não poderia deixar de reconhecê-lo. Sim, ali bem na minha frente estava o guardião da minha caixa de pandora. E eu realmente não sabia dizer o quanto de “verdade” havia naquela imagem: eu, o homem e a caixa.

Surpreendida por tantas dúvidas, eu haveria de decidir naquele exato momento o quão profundo eu poderia ir para alcançar tal verdade, ou simplesmente me desfazer de mim, da caixa e do homem.

E uma natureza sangrenta se apossou de mim e subitamente virei as costas, decidida a juntar meus destroços, agarrei – me aquele anjo e solicitamente pedi-lhe que me guiasse de volta para casa. Era agora minha jornada, minha redenção…

(Contos de Anjos Caídos)