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Os segredos do meu mundo sombrio


PARTE1

Eu suspirava forte, tinha tanto medo que meu estômago embrulhava, não sabia o que fazer, só sabia que tinha que correr. Para onde? A única certeza era de que ele me alcançaria. Tinha esperanças somente em uma pessoa, mas não sabia se me ouviria.

Estava tão cansada de correr pela casa, e o pior, não fazia a mínima ideia do que estava atrás de mim. Então gritei com toda a minha força, como se o mundo fosse acabar. Somente aquele nome poderia me ajudar.

De repente ele agarrou meu braço, e gélida vi a face pálida e desfigurada da morte bem diante de mim.

Acorde Sara! Vai se atrasar para o colégio. Balbuciei entre os dentes, sem que pudesse ser ouvida: droga! Esse sonho de novo não. Sinto um calafrio ao lembrar-me que durante três noites seguidas tenho o mesmo sonho, atordoada por não saber quem me persegue ou o nome pelo qual clamo por socorro.

Desço as escadas, tentando decidir o que era pior, o pesadelo ou a escola, que obrigatoriamente preciso frequentar diariamente. Mãaaaaae! Grito prolongado para ter certeza que ela ouviu. Cade o papai e o Dreew ?

Já foi minha filha e agora eu também estou indo, responde minha mãe calmamente, como se quisesse me ensinar a ter educação. Ande logo, vai se atrasar. Beijos querida e lembre-se que te amo, finaliza ela suavemente fechando a porta.

Mal sabia que seria a última vez que falaria com ela, sinto minha garganta fechar com as lembranças boas e doces de minha mãe. Queimadas junto com ela, meu pai e meu irmão naquele terrível acidente na fábrica onde trabalhavam desde sempre.

Desde então, esse silêncio, o nó na garganta e um tio solitário é tudo o que tenho. Tom, esse era o nome daquele senhor esguio, cabelos grisalhos, apesar de não esboçar um sorriso se quer, tio Tom aparentava ter a serenidade de mamãe.

Esse é seu quarto, tudo o mais que precisar me avise, eu providenciarei, disse ele calmamente, mas novamente sem esboçar qualquer expressão cordial.

Obrigada tio, respondi-lhe tentando demonstrar certa gratidão.

Com o tempo me acostumei à solidão, não havia mais aquela “agitação” no café da manhã, como dizia mamãe ao se referir aos calorosos debates matinais de papai e Dreew , meu irmão mais velho.

Minhas manhãs eram geladas e silenciosas, não havia proibições na casa do tio Tom, mas havia um contrato silencioso entre nós, onde qualquer excesso de palavra se tornara uma grave infração. Eu não gostava de olhar para ele, não porque era feio, carrancudo ou coisa assim, mas porque eu sentia a dor me corroer ao encarar aqueles olhos familiar, a face fina como manteiga, como a de minha mãe, eu sentia tanta saudade.

A mansão era como um grande museu, bem decorada, tudo em sua perfeita sintonia, mas era uma beleza velha, como se tudo comunicasse um passado feliz, cristalizado como poeira.

Pedi permissão ao tio Tom para tocar seu majestoso piano de cauda, pedido este que ele gentilmente me concedeu. Mamãe amava me ouvir tocar, tocava-lhe a alma, dizia ela. E eu sentia que de alguma forma ela estava ali, com os olhos fechados e um sorriso calmo. E eu fechei os olhos…

Nota por nota, e mamãe me ouvia. Abri meus olhos bem devagar, e um reflexo no piano me transportou aos meus pesadelos, eram aqueles olhos, perigosamente sedutores. Virei-me rapidamente, com os olhos arregalados vasculhei toda a sala, e a brisa gelada vinda da janela não deixava minha intuição mentir, alguém esteve ali.

Estranhamente desde que meus pais morreram aqueles sonhos malucos haviam simplesmente desaparecido. Agora a doce lembrança de mamãe ao tocar o piano o trouxera de volta.

Ouvi um barulho no fundo da casa, estava com medo, mas não o suficiente. Identifiquei a origem do barulho e como um cão farejador, em segundos estava na ala oeste da casa, onde o barulho estava mais intenso. Havia um corredor estreito que levava a área de serviços. Vasculhei rapidamente a extensão, a mobília meio enferrujada, mas nada encontrei.

De repente a porta bateu com tanta força que estremeceu minha alma, pus-me a gritar e logo uma mão me segurou. Desculpe-me! Não queria assustá-la. Eu já não podia gritar, o pavor me paralisou, eram aqueles olhos, o mesmo dos meus pesadelos, do reflexo do piano. Sedutores, perigosos e tão azuis, como um paraíso a ser descoberto, harmoniosos como uma obra, combinavam perfeitamente com aqueles cabelos intensamente pretos e lisos, a face desenhada, o corpo esculpido.

Me assustou. Falei tão fraco que não tinha certeza se ele havia me ouvido. Você é Sarah certo? Indagou-me ele. Sim, quem é você? Respondi-lhe com uma pergunta. Sou filho do zelador Rick. Mais uma vez o barulho. Virei-me subitamente. Ao constatar que não se tratava de nada. Voltei-me ao rapaz, mas ele havia desaparecido sem qualquer vestígio.

Durante todo o dia não parava de pensar no “garoto da ala oeste”. Seus olhos estavam fixos o tempo todo em minha memória. Eu não sabia como parar de olhá-lo. Ele estava fixo, imóvel, na minha paisagem do medo.

Os dias se passaram e a fixação pelo garoto se transformou em curiosidade, então decidi que iria saber mais sobre ele. Sabia que seu pai, o zelador Rick, costumava passar as manhãs limpando a piscina, e logo me dirigi a ele.

Bom dia Sr. Rick? Bom dia minha jovenzinha, como vai? Respondeu-me.

Desculpe-me a intromissão, mas gostaria de perguntar-lhe como se chama seu filho? Que filho querida, eu não tenho filhos, sou um homem solitário. De repente um espanto compartilhado. Eu e ele. Seu tio não permite crianças entre os funcionários, e como sou seu funcionário mais antigo, cheguei aqui bem moço, e sabendo das exigências nunca me aprouve ter filhos.

Fomos acordados do perplexo pelos gritos do tio Tom: Rick! Rick! O zelador apressadamente se ausentou sem dar-me qualquer satisfação. Segui Rick apressadamente, ao ponto de ouvir meu tio aos berros: Quem esteve na ala oeste? Eu não quero ninguém lá fui bem claro? O zelador consentiu sem abrir a boca. Meu coração gelou e me perdi na imagem daquele garoto. Quando recobrei a atenção estava só, nem sinal do tio Tom e do zelador..

Voltei ao meu quarto e aguardei até a hora do jantar. Como de costume, o único diálogo centrava-se entre meu tio e os empregados servindo a mesa. Meu tio, curiosamente naquela noite me perguntou se estava tudo bem. Assenti-lhe sorrindo reservadamente.

Com a imagem do garoto adormeci naquela noite.


CONTINUA...


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31/10/23:  Exposição de Arte Escandinava

 

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