A culpa é SUA ou das ESTRELAS?
O livro “A culpa é das Estrelas” do autor norte americano John Green é com certeza um dos melhores livros que já lí. Para quem não conhece, a narrativa do autor centra-se na personagem Hazel Grace, uma paciente terminal de 16 anos que tem câncer desde os 13. No último capítulo de sua história, Hazel se apaixona por Augustus Waters, um garoto bonito que certo dia aparece no Grupo de Apoio a Crianças com Câncer.
Juntos, os dois vão viver um amor infinito dentro de dias numerados. Mas, por fatalidade, acaso ou simplesmente destino, Augustus que também tinha câncer morre, interrompendo essa história de amor.
Mas algo que não fica claro na narrativa de Green é a ideia filosófica por trás de sua obra. A começar pelo seu título. Por que uma obra que narra um romance/drama adolescente teria por título “A culpa é das estrelas”?
Eu argumento que o autor estava tentando nos dizer algo como: a intervenção do “destino”, do “acaso”, dos cosmos ou sei lá mais o que, interferem diretamente em nossas vidas e contra as quais não podemos fazer quase nada.
Contrapondo uma ideia de senso comum, tal qual “colhemos o que plantamos” ou “ somos senhores de nossos destinos” etc. E tal.
A pergunta que permeia toda obra do autor é: de quem mais seria a culpa pelo câncer da Hazel, pela morte do Gus, pela interrupção de um amor lindo, senão das estrelas, figurando neste caso o próprio destino ou acaso?
Mas, há situações no mundo e na vida das pessoas em que esta ideia de destino é completamente controversa. Quando, nessas situações, se argumentam que as pessoas são inteiramente responsáveis por seu “destino” ou “dor”.
Shakespeare, em sua obra teatral “Júlio César” coloca essa ideia em questão através da narrativa de Caio Cássio ao tentar convencer Bruto a trair seu amigo e então líder político e militar de Roma Júlio César, em nome da consciência coletiva.
Caio argumenta que todo o poder e capacidade de subjugação de César não era obra do destino ou concedido por uma divindade, mas estava ligado à servidão voluntária a que o povo havia se colocado.
A cerca desse paradigma Caio vai dizer a Brutos:
“Há momentos em que os homens são donos de seus fados. A culpa, meu caro Brutos, não é de nossas estrelas, mas de nós mesmos que consentimos ser inferiores.”
O que Caio Cássio está defendendo aqui, ao contrário de Green é que certos sofrimentos, privações e servidão, são causados voluntariamente, ou por consentimento de uma maioria, e não por um acaso, ou divindade, ou destino.
Em seu brilhante discurso, Etienne de La Boétie, vai dizer que:
“Esse que tanto vos humilha tem só dois olhos e duas mãos, tem um só corpo e nada possui que o mais ínfimo entre os ínfimos habitantes das vossas cidades não possua também; uma só coisa ele tem mais do que vós e é o poder de vos destruir, poder que vós lhe concedestes. Onde iria ele buscar os olhos com que vos espia se vós não lhos désseis? Onde teria ele mãos para vos bater se não tivesse as vossas? Os pés com que ele esmaga as vossas cidades de quem são senão vossos? Que poder tem ele sobre vós que de vós não venha? Como ousaria ele perseguir-vos sem a vossa própria conivência? Que poderia ele fazer se vós não fôsseis encobridores daquele que vos rouba, cúmplices do assassino que vos mata e traidores de vós mesmos?
(Trecho extraído: Discurso sobre a servidão voluntária)
Portanto, antes de entregar às ESTRELAS a culpa pelos problemas da nação, pela corrupção, pela fome, pela guerra, se pergunte se a culpa na verdade não é SUA, através de sua servidão voluntária aos dominadores?
OKAY pessoal?